As Teses Condenadas de Lutero

Em 1520, o papa Leão X emitiu a bula “Exsurge Domine”, em resposta as 95 teses de Martin Lutero. Nessa bula, o papa considerava válidas 54 teses, porém exigia retratação de 41 delas. Lutero não se retratou de nenhuma. Vejamos quais de suas 95 teses foram consideradas heréticas:

1. É uma opinião herética, embora comum, que os sacramentos da nova Lei dão a graça do perdão àqueles que não lhes põem um obstáculo.

2. É tratar com desprezo tanto Paulo como Cristo dizer que não permanece o pecado numa criança após o batismo.

3. As inflamáveis fontes do pecado, mesmo que seja pecado não atual, retarda a partida da alma do corpo para o céu.

4. Para alguém à hora da morte, a contrição imperfeita necessariamente lhe traz grande medo, o qual por si só é bastante para causar a punição do purgatório, e impedir a entrada no Reino.

5. Não está fundamentado na Sagrada Escritura nem nos antigos e sagrados doutores cristãos que haja três partes na penitência: contrição, confissão e satisfação.

6. Contrição que se adquire através de discussão, coleta e abominação dos pecados, pelos quais alguém reflete sobre seus anos na amargura de sua alma, ponderando na gravidade dos pecados, seu número, sua baixeza, a perda da felicidade eterna e a pena da condenação eterna, essa contrição torna-o um hipócrita, ou mais, de fato, um pecador.

7. Há um dito altamente verdadeiro, e a doutrina concernente às contrições desse modo são muito mais dignas de atenção: “Não agir assim no futuro é a maior penitência; a melhor penitência, uma nova vida.”

8. De modo algum alguém presuma de confessar pecados veniais, ou mesmo todos os pecados mortais, porque é impossível que saiba todos os pecados mortais. Daí, na Igreja primitiva somente os pecados mortais óbvios eram confessados.

9. Enquanto quisermos confessar todos os pecados sem exceção, estaremos fazendo nada mais do que desejar nada deixar para perdão pela misericórdia de Deus.

10. Os pecados não serão perdoados a ninguém a não ser que o padre os perdoe e a pessoa acredite que estão perdoados; do contrário o pecado permanecerá, salvo se a pessoa acredita que eles foram perdoados; na verdade a remissão do pecado e a concessão da graça não é suficiente, mas é necessário também acreditar que eles foram perdoados.

11. De modo algum pode alguém ter segurança de ter sido absolvido por causa de sua contrição, mas por causa da palavra de Cristo:”Tudo o que desatardes, etc.” Daí eu digo, acredite confiantemente, se você obteve a absolvição do padre, acredite firmemente de ter sido absolvido e você será verdadeiramente absolvido, seja qual tenha sido a contrição.

12. Se numa impossibilidade aquele que confessa não esteve contrito ou o padre não absolveu seriamente, mas como de brincadeira, se não obstante a pessoa acredita que foi absolvida, ela verdadeiramente foi absolvida.

13. No sacramento da penitência e da remissão do pecado o papa ou o bispo não faz mais do que o mais humilde padre; de fato, onde não há padre, qualquer cristão, mesmo uma mulher ou criança, pode igualmente fazê-lo.

14. Ninguém deve responder ao padre que está contrito, nem o padre poderia perguntá-lo.

15. Grande é o erro daqueles que se aproximam do sacramento da Eucaristia confiados em que se confessou, que não estão cônscios de nenhum pecado mortal, que antecipadamente fizeram suas preces e sua preparação; todos eles comem e bebem seu próprio julgamento. Mas se acreditam e confiam que obterão a graça , então esta fé sozinha torna-os puros e dignos.

16. Parece que a Igreja num Concílio comum estabeleceu que o leigo pode comungar sob ambas as espécies; os Boêmios que comungam sob ambas as espécies não são hereges, mas são cismáticos.

17. Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede indulgências não são os méritos de Cristo e dos santos.

18. Indulgências são fraudes piedosas dos fiéis, e indultos de boas obras; e elas estão no número daquelas coisas que devem ser evitadas, e não no número daquelas que são vantajosas.

19. Indulgências não são proveitosas para aqueles que realmente as ganham, para a remissão da pena devida ao pecado atual, sob o ponto de vista da justiça divina.

20. São seduzidos aqueles que acreditam que indulgências são salutares e úteis aos frutos do espírito.

21. As indulgências são necessárias somente para crimes públicos, e são concedidas apropriadamente somente para os rigorosos e impacientes.

22. As indulgências não são necessárias nem úteis para seis espécies de homens, a saber: para os mortos e aqueles à morte, para os enfermos, para aqueles legitimamente impedidos, para aqueles que não cometeram crimes, para aqueles que cometeram crimes, mas não públicos, e para aqueles que se devotam a coisas melhores.

23. Excomunhões são apenas penas externas e não privam o homem das orações espirituais comuns da Igreja.

24. Os cristãos devem ser ensinados a apreciar as excomunhões preferentemente a temê-las.

25. O Pontífice Romano, o sucessor de Pedro, não é o vigário de Cristo para todas as igrejas de todo o mundo, instituído pelo próprio Cristo na pessoa do abençoado Pedro.

26. A palavra de Cristo a Pedro: “Tudo o que desatardes na terra,” etc, se estende somente àquelas coisas atadas pelo próprio Pedro.

27. É certo que não está sob o poder da Igreja ou do papa decidir sobre os artigos de fé, e muito menos sobre o que concerne às leis da moral e das boas obras.

28. Se o papa com uma grande parte da Igreja pensou de tal ou tal modo, ele não poderia errar; ainda assim não é pecado ou heresia pensar o contrário, especialmente sobre matéria não necessária à salvação, até que uma alternativa seja condenada e a outra aprovada por um Concílio geral.

29. Um meio foi dado a nós para enfraquecer a autoridade de concílios, para contradizer seus atos livremente, julgar seus decretos e corajosamente confessar tudo o que pareça verdade, seja o que for que tenha sido aprovado ou desaprovado por qualquer concílio.

30. Algumas proposições de John Huss, condenadas pelo Concílio de Constança, são perfeitamente cristãs, totalmente verdadeiras e evangélicas; essas, a Igreja Universal não poderia condená-las.

31. Em toda boa obra o justo peca.

32. Uma boa obra muito bem feita é um pecado venial.

33. É contra o desejo do Espírito Santo que heréticos sejam queimados.

34. Ir guerrear contra os Turcos é resistir a Deus que pune nossas iniquidade através deles.

35. Ninguém está certo de que não esteja sempre pecando mortalmente, por causa do vício profundamente oculto do orgulho.

36. Livre arbítrio após o pecado é uma questão somente de palavra; e no que alguém faz enquanto está nele, peca mortalmente.

37. O purgatório não pode ser provado pela Sagrada Escritura que está no Cânon.

38. As almas do purgatório não estão certas de sua salvação, ao menos não totalmente. Nem está provado por nenhum argumento nem pelas Escrituras que elas estejam além do estado de obter méritos ou crescer no amor.

39. As almas do purgatório pecam sem cessar, na medida que procuram descansar e detestam a punição.

40. As almas libertas do purgatório pelos sufrágios dos vivos são menos felizes do que se elas prestassem satisfação por elas mesmo.

41. Prelados eclesiásticos e príncipes seculares não agiriam mal se destruíssem todas as bolsas de dinheiro da mendicância.

Fonte:  https://www.papalencyclicals.net/leo10/l10exdom.htm

Entre as quarenta e uma afirmações condenadas, apenas uma transcende a esfera teológica. A tese de número trinta e três, submetida à condenação, lança luz sobre a essência da antiga igreja romana. É uma realidade que os apologistas católicos contemporâneos, ao negarem a existência da inquisição e outras atrocidades, tentam desesperadamente refutar. O Papa Leão X explicitamente repudiou a ideia de que o Espírito Santo não deseja a punição dos hereges pelo fogo. Que prova mais contundente poderia haver de que as crueldades perpetradas na “santa igreja” contavam com a aprovação do “sumo pontífice” e do “magistério infalível”?

Vale recordar que o pré-reformador John Huss, cuja menção está presente em uma das teses anteriores, foi condenado à morte na fogueira pelo que a igreja da época rotulou como heresia, durante o Concílio de Constança, em 1415. O que Huss defendia, em essência, ecoaria nos ideais da posterior reforma protestante. Outro notável reformador foi John Wycliffe, pioneiro na tradução da Bíblia para o inglês. Por sua destacada carreira como professor em Oxford, Wycliffe não foi condenado em vida por suas críticas ao sistema clerical. Entretanto, após sua morte, seus ossos foram queimados, uma tentativa póstuma de silenciar sua influência, já que não conseguiram fazê-lo enquanto ele estava vivo.

Agradecemos a Deus pela Reforma Protestante, pelo legado dos mártires e pela liberdade de crer apenas no Evangelho sem o temor de ser condenado à fogueira por isso.