A 12 Camadas da Personalidade, Visão Cristã

O influenciador Olavo de Carvalho desenvolveu uma teoria chamada “as camadas da personalidade”, que descreve as motivações de ação do ser humano. Basicamente, o ser humano pode ter diferentes motivações para agir. De acordo com essa teoria, essas motivações seguem uma sequência, indo das menos nobres as mais nobres. É impossível pular de camada, para chegar a uma superior é necessário passar por todas que a antecedem. Além de que a motivação de camada superior é sempre incompreensível para quem está nas camadas inferiores. A versão mais antiga que pude encontrar onde ele trata da teoria é no livro de astrologia, “Breve Tratado de Astrocaracterologia”, de 1997. As 12 camadas listadas na teoria, brevemente resumidas:

1. Dominar o próprio corpo.

2. Provar e gostar das experiências vividas através dos sentidos.

3. Entender como as coisas funcionam.

4. Aceitação pelo grupo social, se sentir amado.

5. Vencer disputas e ganhar auto confiança.

6. Obter lucro e alcançar resultados objetivos.

7. Cumprir o papel social, entregando valor à sociedade.

8. Encontrar sentido na vida diante da morte.

9. Buscar a verdade e criar intelectualmente para inserir uma visão única na

sociedade.

10. Obter os meios para exercer suas ideias na sociedade.

11. Alterar conscientemente o curso da história com suas próprias ações.

12. O sofrimento é decepcionar a Deus e o objetivo é alcançar a redenção.

Observação sobre a camada 12

“Na camada 12 todas as ações são pautadas pela seguinte regra: “o que Deus vai achar disto?” Tal é o sujeito que, de acordo com a Bíblia, caminha diante de Deus e sabe o que Ele está pensando. Normalmente, mesmo uma pessoa excepcional não submete todos os atos a esse critério. O confronto com Deus pressupõe que o homem seja capaz de conceber cada ato seu sob um prisma eterno.”

“Podemos falar de santidade apenas quando a relação do indivíduo com um Deus eterno é que motiva cada um dos seus atos. Não somente atos acidentais, mas todos, um por um, não existindo um único ato que se possa explicar fora desse diálogo. Com quem o sujeito conversa, a quem ele responde? Se apagarmos essa conexão, a vida dele se torna uma coleção de atos sem sentido. Existem indivíduos que já nascem na camada 12, tanto que ao passarem pelas que a antecedem elas vão sendo absorvidas rapidamente.

Olavo de Carvalho, As doze camadas da personalidade humana e as formas próprias de sofrimento.

Já vi alguns influenciadores cristãos protestantes se utilizarem desta teoria, principalmente para superar a famigerada quarta camada. Dentro dessa bolha, ser chamado de quarta camada é praticamente um xingamento. É que de acordo com a teoria, grande parte das pessoas no Brasil vivem na quarta camada, por isso são escravas dos próprios prazeres e a razão de viver é a própria satisfação. 

Não sou psicóloga, quanto menos filosofa, mas como a última camada diz respeito a vida espiritual, tenho liberdade pelo sacerdócio universal de todos os cristãos (1 Pedro 2.5) para dar a minha visão em matéria de fé. Do mesmo modo que o criador desta teoria também não era psicólogo, formalmente filósofo, teólogo ou cristão evangélico, a liberdade do autor de discorrer sobre a personalidade humana e, de certa forma, a relação do homem com Deus, vem de sua experiência como astrólogo e observação pessoal.

Na visão bíblica, para que possamos passar da morte para a vida, é necessário que morramos para nós mesmos e tomemos nossa cruz. Isso significa que devemos abandonar nossos prazeres, nossa vontade e nos submetermos a obedecer tudo aquilo a qual somos ordenados, desse modo nós passamos a viver para Deus. Este “viver para Deus” aparece na teoria na última camada, ou seja, apenas quem passou pelas motivações descritas de 1–12 vive para Deus. Já este “morrer para si mesmo” é apresentado na teoria como a descrição da quarta camada, mas não pense que é o mesmo morrer para as vontades que o evangelho narra, é o tipo de “morte” de maneira gerada por si mesmo e suas por suas próprias ações, da mesma forma como era feito na idade média, da mesma forma a qual Paulo fala em Colossenses 2:20–23.

 Eu sei que o autor dessa teoria, apesar de nela discorrer assuntos de espiritualidade e religião, não utilizava da bíblia para basear seus pensamentos, a questão é que eu já vi cristãos protestantes a utilizando e divulgando em seus cursos como se fosse algo condizente com a fé protestante, o que não é o caso, por conta de que se na teoria das camadas da personalidade o indivíduo só é apto a viver uma vida motivada por seguir a Deus e a sua vontade se antes passar por uma série de amadurecimento em várias áreas o tornando alguém melhor, mais digno, por meio do esforço próprio, no evangelho vemos que o que faz o ser humano ser capaz de melhorar o seu caráter/amadurecer/ser capaz de fazer o verdadeiro bem é a sua comunhão com Deus. Primeiramente, por que se dependêssemos de escalar de motivações em graus de nobreza para finalmente alcançar a comunhão com Deus, jamais a alcançaríamos, pois não somos dignos de chegar a ele por ações próprias (Tito 3:5), (Isaías 64:6), é necessário que ele venha até nós e nos tire do abismo em que estamos, mesmo sem merecer, mesmo com as motivações mais baixas possível, mesmo atolados em pecados tenebrosos, pois não há outra maneira (Efésios 2:4-5). Biblicamente falando, a única forma que o ser humano tem de ter Deus como centro e motivo de suas ações é se Ele próprio o resgatar, e o maior sinal de ter sido regatado é essa mudança no coração, onde os próprios interesses já não tem mais valor, o maior desejo é estar com Deus e fazer o que Ele quer (Filipenses 3:7–8). 

Em suma, quem busca se aprimorar para ser considerado digno de chegar a Deus, jamais conseguirá (Romanos 3:10–12), mas aquele que, se enxergando pecador (Lucas 18:13), identifica sua impossibilidade de mudança por conta própria (Efésios 2:8–9) e entrega sua vida ao Criador, recebe uma nova natureza (2 Coríntios 5:17), que o regenera gradualmente até o fim de sua vida (Filipenses 1:6). Isso não é de mérito próprio (Tito 3:5), mas fruto de uma nova natureza que não vem do próprio esforço (João 1:12–13).

“Tenham cuidado para que ninguém os escravize por meio de filosofias inúteis e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, mas não em Cristo. Pois toda a plenitude da divindade habita corporalmente em Cristo, e vocês estão plenos nele, que é a cabeça de todo poder e autoridade.”

Colossenses 2:8