“A opinião enviesada que Aristóteles tinha sobre o feminino foi particularmente danosa, pois foi ela — e não a de Platão — que prevaleceu durante a Idade Média. E assim a Igreja herdou uma visão das mulheres que na verdade não tem nenhuma correspondência na Bíblia. Jesus não era nenhum inimigo das mulheres!”(Gaarder, J. (1995). O mundo de Sofia. Companhia das Letras.)
A filosofia de Aristóteles exerceu uma influência profunda e duradoura sobre o pensamento ocidental, moldando diversas áreas do conhecimento, incluindo a visão sobre o valor da mulher na sociedade. Aristóteles, um dos mais proeminentes filósofos da antiguidade, apresentou ideias que se tornaram fundamentais para a filosofia e a teologia cristã medieval. Suas concepções sobre a natureza e o papel das mulheres, embora refletindo o contexto cultural da Grécia Antiga, foram amplamente debatidas e reinterpretadas ao longo dos séculos. Aristóteles via as mulheres como naturalmente inferiores aos homens, tanto em termos de razão quanto de virtude. Ele afirmou:
“A relação entre macho e fêmea é aquela em que um é superior e o outro inferior, um governa e o outro é governado. Esta necessidade é estabelecida pela natureza” (Política, Livro I, Capítulo 5).
Em sua obra “Geração dos Animais”, ele declara:
“homem deformado, pois sua descarga menstrual é sêmen, embora em condição impura; isto é, falta-lhe um constituinte… o princípio da alma” (Livro III).
Essas visões foram profundamente influentes e refletiam as normas culturais de sua época, onde as mulheres eram vistas como defeituosas ou incompletas em comparação aos homens.
Por outro lado, Platão, mentor de Aristóteles, tinha uma visão mais igualitária das mulheres. Em sua obra “A República”, Platão argumenta que as mulheres, se devidamente educadas, poderiam desempenhar os mesmos papéis que os homens na sociedade, incluindo a participação como guardiãs e governantes. Ele acreditava que a capacidade intelectual das mulheres não diferia da dos homens, apenas suas oportunidades eram limitadas.
Entre os pensadores que se debruçaram sobre as ideias aristotélicas, Tomás de Aquino se destaca como uma figura central na síntese entre a filosofia clássica e a teologia cristã. Aquino, um teólogo e filósofo do século XIII, é conhecido por sua tentativa de harmonizar a filosofia de Aristóteles com os princípios do cristianismo. Em suas obras, Aquino aborda a natureza da mulher, a sua função na sociedade e na família, temas que ele analisou à luz dos ensinamentos aristotélicos. A adoção por Aquino das ideias aristotélicas contribuiu para uma perspectiva mais hierárquica e desigual em relação ao ideal bíblico que reconhece a dignidade e valor intrínseco de todos os seres humanos.
Neste artigo, veremos algumas citações de Tomás de Aquino que nos permitirão entender como ele absorveu e reinterpretou essas ideias, adaptando-as à sua visão teológica e filosófica. A análise revelará a continuidade das concepções sobre a mulher ao transitar do contexto pagão da Grécia Antiga para o mundo cristão medieval e o quanto elas se diferem do ideal bíblico.
Obtive essas citações do livro “A História da Misoginia” de Lucas Banzoli, as revisei pessoalmente na fonte original (Suma Teológica, de Tomás de Aquino) para verificar sua veracidade e as reproduzirei a seguir.
Art. 3 — Se o testemunho de uma testemunha só deve ser recusado por causa de culpa.
SOLUÇÃO. — O testemunho como já dissemos, não tem certeza infalível, mas provável: Logo, tudo o que orientar em contrário essa probabilidade torna o testemunho ineficaz. Ora, torna-se provável que uma testemunha não testifica com firmeza a verdade, ora por culpa, como se dá com os infiéis e os infames e também com os réus de crime público, que não podem acusar; mas, outras vezes, sem culpa. E isto ou por falta de razão como o demonstram as crianças, os dementes e as mulheres; ou pelo afeto, como se dá com os inimigos e as pessoas chegadas e domésticas, ou também pela condição externa, como os pobres, os escravos, que podem ser mandados e dos quais é lícito crer que se deixem com facilidade induzir a testemunhar falsamente contra a verdade. — Por onde é claro que um testemunho pode ser repelido por causa de culpa e sem culpa.
Secunda Secundae. Questão 70, Art. 3
Art. 5 ─ Se a falta de idade impede o matrimônio.
SOLUÇÃO. ─ O matrimônio, sendo uma espécie de contrato, depende, como os outros contratos, das disposições da lei positiva. Por isso, pelo direito, tanto civil como canônico, foi proibido contrair casamento antes da idade de discernimento, quando cada uma das partes é capaz de deliberar suficientemente sobre ele e sobre o dever que deve um cumprir para com o outro. E se assim não for, o casamento será nulo. Ora, no mais das vezes essa idade é para o homem a dos quatorze anos e, para a mulher, a dos doze; o que já ficou fundamentado antes. ─ Mas como os preceitos do direito positivo se aplicam só na maior parte dos casos, não fica nulo o matrimônio de quem, antes da idade legal, tiver um desenvolvimento suficiente, de modo que o vigor da natureza e da razão supra a falta de idade. Portanto, o matrimônio daqueles será perpetuamente indissolúvel, que o tiverem contraído antes da puberdade, tendo-o já consumado antes da referida idade.
Suplemento. Questão 58, Art. 5.
Art. 1 ─ Se certos bens são necessários para justificar o matrimônio.
SOLUÇÃO. ─ Nenhum homem prudente deve consentir num mal senão compensado por um bem igualou melhor. Por onde, a escolha de uma alternativa, que implica um mal necessita a justificativa de um bem anexo que, por compensação, a torne bem ordenada e honesta, Ora, a conjunção sexual entre o homem e a mulher implica um certo mal ─ quer seja este a veemência do prazer, que absorve a razão a ponto de tornar de fato impossível o ato intelectual, como diz o Filósofo; quer também por causa da tribulação da carne, de que fala o Apóstolo, e que hão de sofrer os casados pela solicitude com os bens temporais. Por onde, a escolha dessa união não pode ser justificada senão tendo a compensação de certas vantagens que a tornem virtuosa. E tais são os bons efeitos que o justificam e o tornam legítimo.
Suplemento. Questão 49, Art. 1.
Art. 2 — Se as mulheres também podem receber a graça da palavra de sabedoria e de ciência.
SOLUÇÃO. — Dois usos pode ter a palavra. — Um privado, quando falamos familiarmente a um ou a poucos. E, então, as mulheres podem receber a graça da palavra. — Outro público, quando a palavra é dirigida a toda a Igreja. E isto não é permitido à mulher. Primeiro e principalmente, pela condição do seu sexo, que a torna sujeita ao homem, como se lê na Escritura. Ora, ensinar e persuadir publicamente, na Igreja, não pertence aos súbditos, mas aos superiores. Contudo, mais que a mulher, os homens dependentes de um superior o podem por delegação; porque a sujeição deles ao superior não se funda naturalmente no sexo, como se dá com as mulheres, mas nalgum acidente sobreveniente. — Segundo, para que não se desperte a concupiscência do homem, pois, diz a Escritura: A sua conversação se ateia como fogo. — Terceiro, porque geralmente as mulheres não têm sabedoria perfeita a ponto de convenientemente se lhes poder cometer o ensino em público.
Secunda Secundae. Questão 177, Art. 2
Questão: Se devemos, amar mais à mãe que ao pai
“SOLUÇÃO. — O sentido implicado nessas comparações deve ser interpretado, em si mesmo, de modo a entendermos ser pergunta: se o pai, como tal deve ser mais amado do que a mãe, como tal. Pois, em todos os casos como esses, pode haver tanta diferença de virtude e de malícia, a ponto de a amizade desaparecer ou diminuir, no dizer do Filósofo. E portanto, como diz Ambrósio, os bons criados devem ser preferidas aos maus filhos, Mas, considerada a questão em si mesma, devemos amar mais ao pai que à mãe. Pois, a esta e aquele amamos como os princípios da nossa origem natural. Pois o pai realiza a noção de princípio de maneira mais excelente que a mãe, por ser principio ao modo de agente ao passo que a mãe o é, a modo de paciente e matéria. Logo, absolutamente falando, devemos amar mais ao pai.”
Secunda Secundae. Questão 26, Art. 10
Art. 7 — Se o rapto é uma espécie de luxúria distinto do estupro.
RESPOSTA À QUARTA. — O esposo, pelo fato mesmo do casamento, tem certos direitos sobre a esposa. E, portanto, embora peque empregando a violência, fica escusado contudo do crime de rapto. Por isso, Gelásio Papa diz: Segundo a lei dos antigos príncipes, havia rapto quando era arrebatada uma donzela, que antes do casamento, ainda não tinha sido deflorada.
Secunda Secundae. Questão 154, Art. 7.
Art. 3 — Se se pode assinalar uma razão conveniente das cerimônias relativas aos sacrifícios.
RESPOSTA À NONA. — Como o holocausto era o perfeitíssimo dos sacrifícios, só o macho era desse modo oferecido, porque a fêmea é um animal imperfeito. Por outro lado, a oblação das rolas e das pombas era por causa da pobreza dos oferentes, que não podiam oferecer animais maiores. E como as hóstias pacíficas eram oferecidas gratuitamente, e ninguém as oferecia obrigado, senão espontaneamente, as aves referidas não eram oferecidas como hóstias dessa espécie, mas como holocaustos e vítimas pelo pecado, que às vezes era necessário oferecer. E demais, essas aves, por causa da altura do seu vôo, convinham à perfeição dos holocaustos; e também a serem vítimas pelo pecado, por terem, como canto, o gemido.
Pars Prima Secundae. Questão 102, Art. 3.
Art. 1 ─ Se a condição servil impede o matrimônio.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Pode haver contrariedade com a natureza, na sua intenção primeira, sem haver com a sua intenção segunda. Assim, toda corrupção, todo defeito, a velhice são, conforme Aristóteles, contrárias à intenção primeira da natureza, porque a natureza visa o ser e a perfeição. Mas não lhe contrariam a intenção segunda. Pois, quando a natureza não pode manter a existência num serela a conserva em outro, gerado da corrupção do primeiro. E quando não pode levar a uma perfeição maior, conduz, a outra, menor; assim, não podendo criar um macho, cria uma fêmea, que é um macho degenerado, na expressão de Aristóteles, ─ Ora o mesmo dizemos da escravidão; é contra a primeira intenção da natureza, mas não contra a segunda. Porque a razão natural inclina e a natureza apete que cada um seja bom; mas quando alguém peca, a natureza também exige uma pena sofrida pelo pecado. Assim, a escravidão foi introduzida como tal pena. Nem há inconveniente em uma coisa natural ser impedida por uma outra contrária à natureza; assim, o matrimônio fica impedido pela impotência física, contrária à natureza, de modo referido.
Suplemento. Questão 52, Art. 1.
Questão 92: Da produção da mulher. Art. 1 — Se a mulher devia ter sido produzida na primeira produção das causas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Na sua natureza particular, a fêmea é um ser deficiente e falho. Porque a virtude ativa, que está no sémen do macho, tende a produzir um ser perfeito semelhante a si, do sexo masculino. Mas o facto de ser a fêmea a gerada provém da debilidade da virtude ativa, ou de alguma indisposição da matéria; ou ainda, de alguma transmutação extrínseca, p. ex., dos ventos austrais, que são úmidos, como diz Aristóteles. Mas, por comparação com a natureza universal, a fêmea não é um ser falho, pois está destinada, por intenção da natureza, à obra da geração. Ora, a intenção da natureza universal depende de Deus, universal autor da mesma. Por isso na instituição desta produziu não só o macho mas também a fêmea.
Prima Pars, Questão 92, Art. 1
Art. 4 — Se a matéria do corpo de Cristo devia ser tomada de uma mulher
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Por ser o sexo masculino mais nobre que o feminino, é que Cristo assumiu a natureza humana, nesse sexo. Mas para que não ficasse desprezado o sexo feminino, foi congruente que assumisse a carne, de uma mulher. Donde o dizer Agostinho: Não queirais vos desprezar uns aos outros, homens, pois o Filho de Deus quis ser homem. Não vos desprezeis a vós mesmas, mulheres, pois, o Filho de Deus nasceu de uma mulher.
Tertia Pars, Questão 31, Art. 4
Art. 2 — Se as penas particulares dos nossos primeiros pais estão convenientemente determinadas na Escritura
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — No estado de inocência o parto não teria sido acompanhado de dores. — Assim, diz Agostinho: Então, para dar à luz, à mulher se lhe abririam as vísceras, não os gemidos da dor, mas o impulso da maturidade; assim como também para fecundar e conceber não seria o apetite libidinoso, mas antes, o uso voluntário, que teria unido a natureza dos sexos. — Quanto à sujeição da mulher ao marido, deve ela ser entendida como uma pena infligida à mulher. Não quanto ao regime de vida, porque mesmo antes do pecado, o marido seria o chefe da mulher e seu governador; mas, porque, atualmente, a mulher há de necessariamente obedecer à vontade do marido, mesmo contra a vontade dela. — Quanto aos espinhos e abrolhos produzidos pela terra, eles teriam servido, sem o pecado do homem, ao alimento dos animais e não de pena para ele; porque poderiam então esses abrolhos nascer sem deles advir nenhum sofrimento ou castigo para o homem, que trabalhava a terra, como ensina Agostinho. Embora Alcuíno diga que, antes do pecado, a terra de nenhum modo produzia espinhos e abrolhos. Mas; é preferível a primeira opinião.
Secunda Secundae, Questão 164, Art. 2
Art. 3 ─ Se todos ressurgirão com o sexo masculino.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ A mulher está sujeita ao marido por causa da sua fraqueza natural, tanto quanto ao VIGOR DA ALMA quanto à robustez do corpo. Mas depois da ressurreição não haverá mais essas diferenças, senão só a diversidade dos méritos. Logo, a objeção não colhe.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Embora a geração da mulher esteja fora da intenção particular da natureza, esta porém na sua intenção geral, que exige a dualidade dos sexos para a perfeição da espécie humana. Nem haverá na ressurreição nenhuma deficiência resultante dos sexos, como do sobre dito se colige.
Suplemento. Questão 81, Art. 3.
Art. 4 — Se o pecado de Adão foi mais grave que o de Eva.
SOLUÇÃO. — Como dissemos, a gravidade do pecado depende mais principalmente da espécie do que da circunstância dele. Donde devemos concluir, que, consideradas ambas as pessoas, a da mulher e a do varão, o pecado deste foi mais grave porque era mais perfeito que a mulher.
Secunda Secundae. Q. 163, Art. 4.
Art. 1 — Se a mulher devia ter sido produzida na primeira produção das causas.
SOLUÇÃO. — Era necessário que a mulher fosse feita para adjutório do homem. Não, certo, adjutório para qualquer outra obra, como alguns disseram; pois, nisso o homem pode ser ajudado, mais convenientemente, por outro homem, do que pela mulher; mas para o adjutório da geração. O que se pode compreender mais manifestamente, se se considerar o modo da geração, nos seres vivos. — Assim, certos têm conjuntamente 1) virtude da geração ativa e passiva, como acontece com as plantas, geradas da semente; pois, não há nelas nenhuma operação vital mais nobre que a geração e, por isso, a todo tempo e convenientemente, nelas, a virtude geratriz ativa vai junta com a passiva. — Porém os animais perfeitos têm a virtude gera triz ativa, no sexo masculino, e a passiva, no feminino. E como eles são capazes de alguma operação vital mais nobre que a geração, para cuja operação a vida se lhes ordena principalmente, por isso, o sexo masculino não se une com o feminino a todo o tempo, mas só no do coito. E assim podemos pensar que, pelo coito, constituem um só ser o macho e a fêmea, como na planta, a todo tempo, conjugam–se as virtudes masculina e feminina, embora em umas abunde mais uma dessas virtudes, e, noutras, a outra. — Ora, o homem se ordena a uma operação vital mais nobre, que é o inteligir. E por isso ne]e, com maior razão, devia haver a distinção entre uma e outra virtude, de modo que a fêmea fosse produzida separadamente do macho; e contudo, ambos se unissem, carnalmente, para a obra da geração. Por onde, logo depois da formação da mulher, diz a Escritura: Serão dois numa só carne.
Prima Pars. Questão 92, Art. 1.
Art. 3 — Se só os sacerdotes têm o poder elas chaves.
RESPOSTA À QUARTA. — A mulher, segundo o Apóstolo, vive em estado de sujeição. Por isso não pode exercer nenhuma jurisdição espiritual; pois, o próprio Filósofo também diz que a ordem da cidade se corrompe quando o poder vem a cair em mãos de mulher. Eis porque ela não tem a chave da ordem nem a da jurisdição. É-lhes porém cometido um certo uso das chaves, de modo que possa governar outras mulheres, por causa do perigo que podia advir de homens conviverem com elas.
Suplemento. Questão 19, Art. 3.
Art. 1 ─ Se é lícito ao marido matar a esposa apanhada no ato do adultério.
RESPOSTA À QUARTA. — Há duas espécies de sociedade: Uma, a doméstica, como a família; outra política, como a cidade e o reino. Ora, o chefe da segunda espécie de sociedade, que é o rei, pode infligir penas tanto consecutivas como exterminativas do culpado, a fim de purificar a sociedade cujo governo lhe incumbe. Mas o chefe da primeira espécie de necessidade, que é o pai de família não pode infligir senão uma pena corretiva, que não ultrapassa, diferentemente da pena de morte, os limites da correção. Por onde, o marido, que tem o governo da sua mulher, não na pode matar, mas somente castigar.
Suplemento. Questão 60, Art. 1.
Art. 4 ─ Se marido e mulher, em causa de divórcio, devem julgar-se em igualdade de condições
RESPOSTA À QUINTA. ─ O pecado de adultério implica a mesma gravidade que a fornicação simples agravada pelo fato de lesar o matrimônio. Considerado pois o que há de comum entre o adultério e a fornicação, o pecado do homem está para o da mulher como o excedente para o excedido; porque a mulher, sendo mais rica em humores, é mais propensa à concupiscência; ao passo que no varão há maior ardência, excitante da concupiscência. Contudo, absolutamente falando e todas as circunstâncias iguais, o homem, na fornicação simples, peca mais gravemente que a mulher, porque tem mais desenvolvido o bem da razão, que prevalece sobre os movimentos das paixões do corpo. Quanto à ofensa porém ao matrimônio, que o adultério acrescenta à fornicação simples e que causa o divórcio, mais gravemente peca a mulher que o homem, como do sobre dito se colhe. E como isto é mais grave que a simples fornicação, por isso, simplesmente falando, e em igualdade de condições, mais grave é o pecado da adúltera que o do adúltero.
Suplemento. Questão 62, Art. 4.
Art. 1 ─ Se um cônjuge esta obrigado, por necessidade de preceito, a cumprir para com o outro o dever conjugal.
RESPOSTA À QUARTA. ─ A lepra dissolve os esponsais, mas não o matrimônio. Portanto, a mulher está obrigada ao dever conjugal, mesmo que o marido seja leproso. Mas, não está obrigada a coabitar com ele; porque não se contamina tão facilmente pelo coito, como se contaminaria pela coabitação frequente. E embora gere uma prole enferma, contudo é melhor a esta existir, que de nenhum modo ter a existência.
Suplemento. Questão 64, Art. 1.
Art. 1 ─ Se ter várias mulheres é contra a lei da natureza.
RESPOSTA À OITAVA. ─ A inclinação natural da potência apetitiva depende da concepção natural da faculdade cognitiva. E não sendo contra nenhum conceito natural ter um homem várias mulheres, como o é ter uma mulher vários maridos, por isso à mulher não repugna tanto outras uniões do marido, como ao marido outras da mulher. Por isso, tanto entre os homens como entre os animais mais ciúmes tem o macho da fêmea, que ao inverso
Suplemento. Questão 65, Art. 1.
Art. 3 ─ Se incorre em irregularidade quem casou com uma não virgem.
SOLUÇÃO. ─ Na conjunção entre Cristo e a Igreja, há unidade de lado a lado. E, assim há deficiência no sacramento se qualquer dos cônjuges já havia contraído outro matrimônio. Mas diversamente: pois, do marido se exige que não haja casado com outra, e não que seja virgem; e da mulher se exige que também seja virgem
Suplemento. Questão 66, Art. 3.
“Infelizmente, Tomás de Aquino adotou a mesma visão de Aristóteles sobre o feminino. Talvez você lembre que Aristóteles se referia à mulher quase como se ela fosse um homem incompleto. E dizia também que as crianças herdam as características paternas, pois as mulheres eram passivas e receptoras, enquanto os homens eram ativos e provedores. Pensamentos assim, segundo Tomás de Aquino, estavam em harmonia com as palavras da Bíblia, onde está escrito que as mulheres foram criadas a partir da costela do homem.”Gaarder, J. (1995). O mundo de Sofia. Companhia das Letras.